Aquela única forma de vida à qual você se apega, acreditando que é a única que foi feita para você, acreditando que ela é sua e, por efeito, que você é dela. Você não quer partir. Mas ela não te impede. Ela não se move.
Ela apenas observa a vida te levando para longe, sem demonstrar sentimento algum, como se ela já esperasse a sua partida. Enquanto você se desmorona por dentro e tenta se agarrar ao que resta, ela, parada, parece lhe dizer que vá, como quem já espera por esse momento, assim como quem espera o trem sabe que ele virá, não importa o quanto demore. A certeza dela destrói o elo. A certeza dela te corrói o peito. A certeza dela te ofende.
Mas a estrada foi feita para ser seguida. E você segue. Sem certeza alguma, com um buraco no peito corroído e os pensamentos feitos de vapor. Tenta se apoiar em algo, mas é tudo insólito nesse momento… Então você simplesmente se entrega ao nada. Olha em outra direção e deixa que o tempo passe lentamente sobre o seu corpo, apertando cada osso, espremendo sua pele, pegando sua mente nas mãos e balançando como uma criança que tenta adivinhar o que tem dentro da caixa. É assim que você (se) parte. É assim que a vida se divide.
Tiago da Silva Vieira